Nesse exato momento, você vai ler uma coisa que aconteceu comigo e me distanciou ABSURDAMENTE da galera que começou a tocar guitarra na mesma época que eu.
Um detalhe que eu mesmo não havia me dado conta até me questionarem sobre a minha carreira e porque eu consegui me sobressair tanto, enquanto vários de meus colegas que eu achava que TOCAVAM MELHOR DO QUE EU, não tinham sucesso.
Eu mesmo sempre achei que essa diferença estava em detalhes musicais, ou mesmo de personalidade, ou de postura.
Sim, essas questões influenciaram em algumas circunstâncias, porém, as vezes de maneira negativa. Afinal, eu não era o cara mais musical do mundo (demorei mais de 2 anos para começar a entender como afinar a guitarra, por pura falta de ouvido), e sobre personalidade, bom, eu era um adolescente bem arrogante, por mais triste que isso me pareça hoje em dia.
Sobre postura, bem, ser uma pessoa radicalmente contra as drogas nem sempre é algo bem visto em certos círculos musicais... Essa postura fechou mais portas do que abriu, se tu quiser saber bem a verdade! (e acho ótimo, não entraria nem que as portas estivessem escancaradas).
Mas então, qual era esse "segredo" tão secreto que eu mesmo não era capaz de identificar?
Cara, eu não era diferente dos guitarristas da época que comecei a tocar. Nem era o mais dedicado.
E com certeza nunca fui "um rostinho bonito", kkkkk, sempre tive essa cara de Viking fechadão e na minha. Mas alguma coisa tinha...
Até que um dia, já faz um bom tempo, eu estava conversando com um amigo desse período, que não toca mais guitarra hoje em dia - mas ele era excelente, e me parecia muito melhor do que eu na época!
Nessa conversa, me caiu uma ficha!
Vamos ver se tu é capaz de sacar...
Quando eu tinha 9 anos, escutei AC/DC pela primeira vez (já contei essa história em um vídeo no YouTube chamado "AC/DC, SURRA E DESTINO". Nessa época comecei a aprender guitarra.
Naquele tempo, eu estava fissurado em música, e escutava de tudo.
Quando conheci a música do violinista Niccolò Paganini, pirei de novo.
Cheguei a comprar uma biografia dele em um sebo, mas estava em espanhol.
Comprei um dicionário de espanhol e bem, hoje eu falo essa língua graças ao Paganini, kkkkkk!
Por causa disso, comecei a estudar violino ai pelos meus 13, 14 anos, e dois anos depois já estava de estagiário na "OSCA" - Orquestra Sinfônica de Caxias do Sul.
Junto ao violino, também tive que aprender a ler partituras, afinal, faz parte da formação de qualquer músico erudito!
Quando eu resolvi fazer a minha banda de rock instrumental, o Power Trio "De Ros", eu peguei um caderno de música onde eu tinha anotado um monte de riffs que eu criava por diversão. Juntava alguns, criava alguma ponte entre eles e voilà, tinha uma música!
Convidei o baixista Fábio Alves e o baterista Sandro Stecanela para irem na minha casa, o baixista com o instrumento e o baterista com os ouvidos e muita atenção.
No primeiro dia, passei umas 5 ou 6 músicas para o Fábio que, para o meu espanto, não só já era capaz de tocar elas como decorava tudo com espantosa rapidez. E o Sandro só escutando...
Na semana seguinte, eles foram novamente, e apresentei mais umas 6 ou 7 músicas que eu havia "juntado" desse mesmo caderno. O baixista pegou tudo na hora, e já repassamos as músicas anteriores, que ele tinha estudado - já tocava melhor do que eu, o fio-da-mãe, kkkk!
Na outra semana, levamos os amps e a batera numa sala onde a orquestra ensaiava e fizemos o primeiro ensaio.
Sabe o baterista? Ele era tão talentoso quanto baixista, ou seja - no primeiro ensaio, já tínhamos o repertório do nosso primeiro show, que viria a acontecer poucas semanas depois...
A banda foi criada e lançada num tempo record!
Depois do lançamento do primeiro disco dessa banda, lancei o álbum "Masterpieces", que era releituras de músicas eruditas que fiz na guitarra. Esse CD me levou , junto a banda de prog metal Akashic, para a Europa, onde passamos 9 meses no ano 2000.
Falando em Akashic, muitas das partes eram bem complexas, então, além de eu compor muitos riffs e escrever para entender exatamente os compassos e subdivisões, as partes mais complicadas e que tocávamos em uníssono (tocando a mesma linha) era escrita e passada para os outros membros da banda.
Nessa época também comecei a fazer algumas participações tocando guitarra na orquestra, muito antes de ter o meu canal no YouTube.
Aliás, criei meu canal do YouTube porque gravei um programa de televisão aqui no RS tocando as músicas do "Masterpieces 2", mais releituras de músicas clássicas. O primeiro vídeo do canal ainda esta no ar, é a minha interpretação, nesse programa da TV Cultura, da música "A Abelha", de Franz Schubert (de Dresden), um clássico do violino virtuosístico.
Não sei se você juntou as peças e descobriu o ponto em comum dessa história...
Qual era o diferencial? Ele fica meio escondido se tu não presta atenção, kkkk!
A HABILIDADE DE LER E ESCREVER MÚSICA!
A banda só existiu porque eu escrevi dezenas, talvez centenas de riffs que me vieram à cabeça naquela época! Eu jamais me lembraria deles, e se eu tivesse eles gravados em áudio, daria muito trabalho junta-los em músicas.
Por escrito é mil vezes mais fácil, tu simplesmente conecta os que tem a ver!
As músicas do Masterpieces? Eram o meu estudo de repertório, nada mais simples de gravar...
Convites para tocar com orquestra?
Com um grupo de tango especializado em Astor Piazzolla?
Com projetos dos mais diversos realizados por músicos muito sérios que precisavam de um guitarrista que pudesse ler os arranjos?
Tudo isso aconteceu porque eu tinha essa habilidade que muita gente acha que não tem muita importância...
Talvez você ache que não tem mesmo, mas, para mim, fez toda a diferença, graças a leitura de partituras eu tenho a minha carreira musical consolidada!
E a tua carreira musical, como anda?